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Adital | 2015: um ano perdido para a Reforma Agrária

Durante uma coletiva de imprensa, realizada na tarde desta terça-feira, 02 de fevereiro, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, João Pedro Stedile e João Paulo Rodrigues, ambos da direção nacional do MST [Movimento dos Sem Terra], apresentaram aos jornalistas um balanço crítico do atual momento político, em 2015, e as perspectivas do Movimento para este próximo período.

Stedile classificou 2015 como “um ano perdido para a Reforma Agrária”, já que o governo não teria feito nada em relação ao tema (Confira a Carta de Caruaru).

“Foram cortados 60% do orçamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nenhuma área nova foi desapropriada, nenhum novo acordo assinado. E as atuais medidas de austeridade são negativas e burras. Porque, se o governo não toma providências para resolver as questões do campo, elas só se acumulam”, disse.

Stedile também lembrou o fato de ainda existirem mais de 100 mil famílias acampadas em todo o país, e que haveria recursos para fazer a Reforma Agrária, mas “o que falta é coragem e vergonha”, por parte do governo federal.

Diante desse cenário negativo, João Paulo Rodrigues anunciou a agenda de lutas do Movimento, que começa no próximo dia 08 de março, com a Jornada de Luta das Mulheres, seguida com a Jornada de Abril, marcando os 20 anos do Massacre de Eldorado do Carajás. Segundo ele, este ano será marcado por diversas marchas e ocupações de terra em todo o Brasil.

Reformas

Sobre as reformas trabalhistas e da Previdência Social – propostas pelo governo federal –, Stedile afirmou que “a Previdência é um fator de justiça social. Talvez, esse seja o único benefício recebido ao longo da vida de um trabalhador. Se o governo inventar de mexer na aposentadoria, acontecerão revoltas populares em todo o Brasil. O governo não é dono da Previdência, o dono é a sociedade, e por isso qualquer tema relacionado a ela deve ser debatido com a sociedade”.

Para ele, a reforma na Previdência interessaria apenas ao capital financeiro, que tem o objetivo de privatizar os fundos no Brasil. “A menina de ouro do capitalismo moderno é a previdência privada. Aqui, no Brasil, por força da luta dos trabalhadores, temos a prevalência da previdência pública. A crise econômica que estamos vivendo tem raízes na indústria e não na Previdência. A classe brasileira passou décadas lutando pela atual Previdência, e não vamos entregar de mão beijada só porque dois ou três banqueiros querem”, concluiu.

O MST também reforçou sua postura contra a ofensiva conservadora que defende o impeachment da presidenta Dilma Rousseff [Partido dos Trabalhadores – PT]. Entretanto, essa posição não significa que o Movimento seja a favor das atuais medidas de austeridade tomadas pelo governo.

“A posição do MST sempre foi contrária ao golpe, o que não significa que também somos a favor do que tem sido feito. A defesa do mandato é democrática e constitucional. Dilma foi eleita, e a direita, a mídia golpista e a burguesia precisam respeitar essa decisão”, disse João Paulo Rodrigues.

Ao terminar, Stedile também apontou a necessidade de reformas mais profundas na sociedade, como as reformas política e dos meios de comunicação, e que todo esforço enquanto movimento popular seria para “animar a base a defender seus direitos, debater as mudanças sociais desse país e para entrarmos numa reascensão do movimento de massas no Brasil”, concluiu.

Carta de Caruaru

Na semana passada, mais de 400 dirigentes do MST de todo o Brasil se reuniram, na cidade de Caruaru (Estado de Pernambuco), durante o encontro da coordenação nacional do MST. No fim da atividade, os Sem Terra escreveram a Carta de Caruaru, em que apresentam um balanço crítico do atual momento político e as perspectivas para o próximo período.

Fonte: Maura Silva/Adital